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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lucky

Sim, eu vou escrever sobre o meu cachorro. Esse vai ser mais um alerta para as pessoas, para não abandonarem os cães na rua. Meu poodle se chama Lucky (nome bem tradicional para um cão, mas ele tem seus motivos não clichêrísticos), e tem de três a quatro anos. Concordamos em três e meio. É bem grande, pesa sete quilos, mas pensa que é cachorro pequeno e adora colo. Não consigo negar-lhe esse mimo e sempre deixo ele rasgar minhas meias-calças para ele ficar feliz em cima das minhas pernas. Nunca pensei que algum ser no mundo fosse me fazer acordar oito horas da manhã e me arrumar em 10 minutos para encarar o frio do inverno lá fora e ficar andando em círculos pelo gramado. Mas por causa dele eu faço isso, e por mais incrível que me pareça, não é por obrigação. O que faço por obrigação é brigar com ele quando nos esconde as meias dos pés, ou quando procura um osso no lixo. Mas sua cara de coitadinho é tão bem representada que me parte o coração de falar qualquer coisa.
Mas ele não é um cachorro normal, desses que a filha ganha de presente de Natal, ou que o namorado dá pra garota... Eu encontrei-o na rua. Ou melhor, ele me encontrou.
No dia 8 de Janeiro eu fui num jantar na casa da minha prima. Tentava não mostrar, mas estava extremamente triste. Minha mãe tinha voltado pro Brasil no dia anterior e eu realmente sentia a sua falta. Passei boa parte da noite do jantar ao telefone com outras amigas, por que sabia que se continuasse na presença dos meus primos iria chorar assim que falassem o nome da minha mãe.
Voltei pra casa com meu pai e, na entrada do prédio, havia um carro parado com cinco homens dentro. Estavam gritando e rindo. Descobri que riam de um cão que estava na chuva, tremendo de frio. Minha raiva e pena foi tanta que me abaixei e chamei pelo animal, mesmo sabendo que ele não viria. Os jovens do carro ficaram em silêncio, à espera de que nada acontecesse.
Meu pai já me tinha falado que ele estava perdido há um tempo, mas sempre achei que houvesse uma coleira em seu pescoço. Mas quando ele veio ter comigo quando o chamei, descobri que não havia nada.
Estava tão sujo, parecia até ser castanho ao invés de branco. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi dar-lhe de comer, mas ele não quis. Então dei-lhe um banho, e já se notava, embora pequena, a diferença.
No dia seguinte, à noite, descobrimos que ele definitivamente não nasceu um cachorro de rua. Em cima da cama do meu irmão tinha um pedaço de corda bem grossa, com aproximadamente 20 centímetros. Lucky vomitou-a. Não sei como não morreu sufocado, sinceramente.
De manhã o levamos ao veterinário e ao pet shop. Mas assim que entramos no carro, ele começou a chorar e debater-se completamente. A resposta: foi abandonado de carro, e tinha medo que fizéssemos novamente.
Segundo a veterinária, muitas pessoas viajam de Lisboa para a margem sul para abandonar os cães, por que logicamente é proibida a passagem de animais pela ponte 25 de Abril e assim os animais não têm hipótese de se lembrar onde ficam suas casas e voltar.
Esse é o ponto em que eu quero chegar. Lucky teve muita sorte por ter sobrevivido seja lá quantos dias ficou na rua, sendo marícas e manhoso da maneira que é. O facto de ter encontrado uma família infelizmente não é o mesmo fim que alguns dos outros cães também tem. E sim, estou muito feliz de ter o encontrado e por ele ter acabado com a tristeza que sentia pela minha mãe, mas se eu pudesse escolher gostaria que ele nunca tivesse passado pelo que passou na rua e estivesse feliz com seus verdadeiros donos. Acho que as pessoas não imaginam o quanto isso pode traumatizar os cães.
Nesse exato momento Lucky está deitado em cima do meu computador, enquanto eu tento alcançar o teclado com uma mão só. Um exemplo verdadeiro da sua manha e (se você conseguisse ver a cena) fofura. Espero que muitos outros tenham o mesmo fim que ele.

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