Meebo Bar
domingo, 31 de outubro de 2010
31 de Outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
Sigaretta
domingo, 10 de outubro de 2010
Sementes do impossível
Ela ainda segurava a semente entre os dedos com uma força brutal. Tinha toda a fé do mundo de que daquela vez, e só precisaria realmente de uma vez, isso iria funcionar. Só dependia dela, da sua força de vontade, e as circunstâncias eram detalhes. Se ajoelhou do lado da cama, com os olhos abertos, mas ainda segurava o grão. Era pequeno, quase imperceptível. Ficou ali sem pensar em nada, até suas pernas tremerem de dor. Então levantou-se e foi até a porta que ia para o jardim. Poderia plantá-la em qualquer lugar dentre os 10 m² de terra fértil que tinha nos fundos da casa, mas não serviria. Tinha que ser num lugar difícil, aliás, impossível. E foi por esse motivo que abriu um minúsculo buraco de sete centímetros no asfalto da casa. Tinha barro por baixo do cimento. "Impossível", pensou ela, "... Perfeito!". Cavou com o dedo indicador a terra vermelha e jogou a semente dentro. Depois regou-a com água até transbordar e escorrer pelo chão todo, para dificultar as coisas. Deu uma última olhada. Parecia sufocada. Estava satisfeita. Então voltou com tudo no seu devido lugar para esconder as evidências de sua avó.
Dentro de quatro semanas voltaria a abrir para ver se a semente germinava. Caso isso ocorresse, saberia que sua mãe seria curada. Parecia um grande sonho para uma menina de cinco anos de idade. E era.
O maior problema era a vovó Quina. E se ela percebesse que tinha um buraco atrás da porta enquanto varria a casa? Esse pensamento a fez acordar às quatro da manhã do 6º dia de espera e examinar sua pequena esperança de milagre. Ainda estava ali, da mesma maneira que tinha deixado dias atrás. E no dia seguinte choveu, então ela ficou três horas ajoelhada segurando um guarda-chuva laranja junto ao grão.
A menina não sabia, mas sua vó sabia o que sua neta estava fazendo. Viu-a abrindo o chão da janela da cozinha. Mesmo se tentasse impedir, sua pequena ainda acreditaria naquilo, tinha certeza. E foi por isso que, no 13º dia, comprou uma planta pequenina no supermercado e, enquanto a menina dormia, substituiu a semente. Foi o maior erro da sua vida.
Sua mãe deveria ter sido curada. Por que? Afinal tinha um pequeno vestígio de verde ali, no meio do cimento. Era impossível, não é? Era impossível.