Meebo Bar

domingo, 31 de outubro de 2010

31 de Outubro de 2010

[...] E assim, em apenas um dia, foi escolhida uma assassina para selar a vida de 192 milhões, 304 mil e 735 pessoas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Sigaretta

Sua inocência permitia que ela se divertisse por enrolar mais um cigarro. Seu pai na verdade não lhe pedia por maldade, mas sim por preguiça. Era um bom pai. Esses momentos ao pé da lareira, com o fumo do tabaco e do fogo no ar, fez com que 25 anos depois fosse possível existir uma nostalgia. Mas vamos voltar dos 35 anos do pai, dos 4 da filha e dos 3 de viúvo. Naquela época ainda doía. O inverno era melhor porque no verão a mãe gostava de ir na praia. E o frio parecia congelar a memória. A criança guardava no peito, sem nem mesmo saber seu significado ainda, um medalhão de prata. Era a lembrança da sua mãe sem nem mesmo ter algo a ver com ela. A mulher nem gostava de velejar, embora houvesse um navio prateado no colar. De qualquer maneira, era melhor do que entregar uma garrafa de Vodka para a menina lembrar da mãe.

domingo, 10 de outubro de 2010

Sementes do impossível

Ela ainda segurava a semente entre os dedos com uma força brutal. Tinha toda a fé do mundo de que daquela vez, e só precisaria realmente de uma vez, isso iria funcionar. Só dependia dela, da sua força de vontade, e as circunstâncias eram detalhes. Se ajoelhou do lado da cama, com os olhos abertos, mas ainda segurava o grão. Era pequeno, quase imperceptível. Ficou ali sem pensar em nada, até suas pernas tremerem de dor. Então levantou-se e foi até a porta que ia para o jardim. Poderia plantá-la em qualquer lugar dentre os 10 m² de terra fértil que tinha nos fundos da casa, mas não serviria. Tinha que ser num lugar difícil, aliás, impossível. E foi por esse motivo que abriu um minúsculo buraco de sete centímetros no asfalto da casa. Tinha barro por baixo do cimento. "Impossível", pensou ela, "... Perfeito!". Cavou com o dedo indicador a terra vermelha e jogou a semente dentro. Depois regou-a com água até transbordar e escorrer pelo chão todo, para dificultar as coisas. Deu uma última olhada. Parecia sufocada. Estava satisfeita. Então voltou com tudo no seu devido lugar para esconder as evidências de sua avó.
Dentro de quatro semanas voltaria a abrir para ver se a semente germinava. Caso isso ocorresse, saberia que sua mãe seria curada. Parecia um grande sonho para uma menina de cinco anos de idade. E era.
O maior problema era a vovó Quina. E se ela percebesse que tinha um buraco atrás da porta enquanto varria a casa? Esse pensamento a fez acordar às quatro da manhã do 6º dia de espera e examinar sua pequena esperança de milagre. Ainda estava ali, da mesma maneira que tinha deixado dias atrás. E no dia seguinte choveu, então ela ficou três horas ajoelhada segurando um guarda-chuva laranja junto ao grão.
A menina não sabia, mas sua vó sabia o que sua neta estava fazendo. Viu-a abrindo o chão da janela da cozinha. Mesmo se tentasse impedir, sua pequena ainda acreditaria naquilo, tinha certeza. E foi por isso que, no 13º dia, comprou uma planta pequenina no supermercado e, enquanto a menina dormia, substituiu a semente. Foi o maior erro da sua vida.

Sua mãe deveria ter sido curada. Por que? Afinal tinha um pequeno vestígio de verde ali, no meio do cimento. Era impossível, não é? Era impossível.