Meebo Bar

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Últimas Palavras (por Guilherme Lucas)

Pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi.

- Os batimentos dela estão ficando estáveis, é só dar mais uma dose de anestésico e logo ela estará melhor. – Voz desconhecida. Um médico novo.
Minha mente já não conseguia assimilar muito bem as imagens, tantos problemas e nenhuma solução. Nada disso precisava ter acontecido.
Novamente dormi.
Depois de mais algumas horas naquele quase estado de coma que já me era comum, abri os olhos devagar e lá estava minha mãe. As imagens vinham como vultos, mas eu reconhecia sua voz solene, e ao mesmo tempo desesperada falando em meu ouvido:
- Isso tudo vai melhorar, querida.
Ela falava como se ainda tivesse solução, mas eu sabia que já era tarde de mais. Talvez, somente talvez, se fosse ele a dizer aquilo... Mas ele não estava presente, mais uma vez me abandonou.
- Como ela está, doutor?
- Sinto muito informar, mas seu estado é cada vez pior. A pneumonia está mais grave, e a diabetes não a deixa mais ver. São muitas doenças, mas essas são as mais graves no momento.
- Mãe, onde ele está? – Finalmente perguntei, com um tremendo sacrifício.
- Hm... Ele disse que não vem querida, disse que não conseguia te ver.
- Eu estou tão mal assim? – lágrimas, agora não, por favor.
- Eu vou sempre te amar, Amy.
As palavras delas só demonstravam mais ainda o meu estava de calamidade. Nada disso teria acontecido se eu a tivesse escutado e não me envolvesse com o Taylor. Foi ele quem me trouxe para essa vida. E não foi necessário mais do que uma noite, mais do que um furo, que acabou com toda a ela.
Uma dor correu por todo o meu corpo, senti minhas extremidades formigando, ela era tão infame que não era sentida em apenas um lugar. Não foi bem como eles dizem, não vi uma história passando em minha cabeça.
Usei minhas ultimas forças para me sentar, olhei para todos aqueles fantasmas da minha mente, tinha um em especial naquele lugar. Mãe. Não a via perfeitamente, mas me foquei no lugar aonde presumi que seriam os olhos.

O Último suspiro.
Adeus.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Corredor de lembranças

A mesma voz que ecoa às sete e quarenta e cinco da manhã, todos os dias, continuava a soar. O que era agora? Ah, incêndio. Nenhuma morte, ainda bem! Intervalo (com promoção de eletrodomésticos). Alguns inúteis minutos depois, a mulher maquiada para esconder as rugas, que na verdade já eram de conhecimento mundial, retornou à tela com mais uma catástrofe encomendada. Assalto. Dessa vez duas pessoas morreram. Desliguei a televisão. Perambulei pelo corredor observando as fotos que estavam cercadas por uma moldura feita de fios dourados. Eram todas praticamente iguais, apenas o bebê crescia ao longo delas, e quanto ao resto das pessoas, eram as mesmas, com a mesma expressão, mesmo tamanho, mesmo feitio, e, incrivelmente, as mesmas roupas. Estava mesmo à espera que na 5ª fotografia pudesse estar uma menina de 7 anos usando fraldas. Aliás, era a única que fazia questão de mudar qualquer coisa. Voltei o corredor inteiro e passei apenas a observá-la. Na primeira foto, devia ter uns 6 meses, estava ao colo da senhora mais velha, que estava com um vestido muito longo estampado com pequenas flores. Não se identificava nada da bebê, apenas que estava enrolada num cobertor cor-de-rosa. Deu até vontade de ficar ali no meio, aconchegada. Na segunda foto devia estar com dois anos. Todo o resto era o mesmo, até a senhora com o vestido. Mas ela carregava um porquinho de pelúcia e fazia uma careta para a câmera. Na terceira não parecia ter passado muito tempo, mas já usava um vestidinho rosa, com uns óculos em forma de estrela, da mesma cor. Na quarta fotografia já estava bem maior que a anterior, e apenas sorria. Na próxima já estava uma adolescente formada, e ao seu lado estava um rapaz com uma aparência simples. Nas molduras seguintes a senhora de cabelos brancos já não estava presente, mas o jovem continuava ao lado da menina, com o braço enrolado na sua cintura. Era um cara sortudo.
- Essa daqui sou eu. - Minha colega de trabalho apontou, por trás de mim, uma senhora bem gordinha.
- Meu Deus! É sério? - Perguntei tentando esconder o susto que levei por ela estar me observando ver as fotos. Há quanto tempo será que ela estava ali?
- Sim. Emagreci bastante.
- Uau! Parabéns.
Silêncio.
- Quem é essa? - Perguntei apontando para a garota. Os olhos da minha colega encheram-se de água. Fiquei sem reação.
- Essa... - Disse com lágrimas nos olhos, enquanto acariciava o próprio braço. - Essa é a Amy. Minha Amy...
Foi então que eu percebi que a menina Amy já não estava na próxima moldura dourada.
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Leia aqui e aqui para complementar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fireworks

Os fogos pareciam que não iriam acabar. E realmente esse não era o desejo de ninguém. Os dois graus negativos ainda estavam ali, mas já não eram sentidos com tanta intensidade. Os problemas pareciam desaparecer, um a um, diante de cada pequeno vestígio de luz mandado ao céu. Era lindo. Você quase de certeza já viu. Começa tão pequeno, e no segundo seguinte já está ocupando toda a sua visão, e cai em pequenos instantes, até desaparecer. E começar outro no lugar.
Você podia sentir que tinha mais umas tantas pessoas ao lado, mas as mentes e os sonhos parecem ter se unido em um. Consegui milagrosamente dar uma espiada. Os sorrisos. Eram todos iguais, na mesma intensidade, da mesma cor, transbordando da mesma maneira, sem conseguirem ser segurados. Alguns casais se abraçavam. A verdade é que estávamos todos sendo abraçados.
Esse foi um daqueles momentos em que você por um segundo fecha os olhos e pede, com muita, muita força, para não passar. E por um minuto realmente parece que deu certo e não acaba. Mas só por um minuto.